Direto da Telinha: A Bela não é Feia

Posted by Ruan Carlos | quarta-feira, 25 de novembro de 2009 | Category: |

Quando a Record veio com a notícia de que havia firmado uma parceria com a Televisa, de início, achei ruim. Uma regressão, um passo para trás. Veio em mente a história do SBT, que produziu grandes novelas como "As Pupilas do Senhor Reitor", "Fascinação" e "Éramos Seis" e que depois do acordo com a rede mexicana, teve sua dramaturgia reduzida a mínima potência no que diz respeito a qualidade de texto, elenco e produção.

Só que nesse caso eu me enganei. "Bela, a Feia" acrescentou muito a Record. Graças a injeção de capital feita pela Televisa, "Bela, a Feia" é uma das novelas mais bem produzidas - se não a melhor - da história da Record. Vamos aos pontos que me levaram a chegar a essa conclusão, porém desde o princípio, antes da estreia.




Divulgação/Record


Quando em pré-produção, foi divulgado pela Record que "Bela, a Feia" teria uma cidade cenográfica que remeteria ao decadente bairro da Gamboa, na zona portuária do Rio de Janeiro, que atualmente está sendo revitalizado para atrair novos turistas. A cidade cenográfica não fica no Recnov, mas sim nos fundos do Parque Terra Encantada, na zona oeste da capital carioca. Essa foi a primeira novela da Record gravada no Rio a ter uma cidade cenográfica, que por sinal não deve nada às montadas pela Globo. Grandes sucessos como "Prova de Amor", "Caminhos do Coração", "Vidas Opostas", "Bicho do Mato" e "Chamas da Vida" tiveram todas suas externas gravadas em regiões adjacentes ao Rio ou em locações. "Bela, a Feia" foi a primeira. Em 2006, com "Cidadão Brasileiro", a Record havia montado uma excelente cidade cenográfica, porém distante quase 80km dos estúdios da novela, o que gerou muitas reclamações. Desde então, das mais de dez novelas produzidas nesse intervalo de tempo, nenhuma delas contou com esse diferencial.
Logo após, veio o elenco. A Record aumentou seu casting e trouxe grandes nomes como Giselle Itié, Bárbara Borges, Silvia Pfeifer, Simone Spoladore e Iran Malfitano da Globo. E além do mais, reuniu ótimos atores, como Esther Góes, Aracy Cardoso, Bemvindo Siqueira, Luiza Thomé, Denise del Vecchio, Jonas Bloch, entre outros. Sem dúvidas, um grande elenco como há muito não se via em uma novela que não fosse exibida na segunda faixa, a que começa às 22h e hoje ocupada por "Poder Paralelo".

O terceiro ponto a ser relevado veio na estreia e após ela. A qualidade de produção é impecável. A fotografia da novela é perfeita, e mesmo não sendo gravada em alta definição, também não deve nada à qualidade de imagem de novelas das sete da Globo. A equipe, liderada pelo excelente diretor Edson Spinello, soube muito bem reverter os dois capitais - da Record e da Televisa - em uma ótima produção. E o mais interessante é que essa qualidade foi linear. Não é como alguns folhetins, que em seus primeiros capítulos tem diversas cenas externas e que após duas semanas concentram suas gravações quase que totalmente em estúdio.
O que se vê em "Bela, a Feia" não se via em nenhuma novela já produzida pela Record no que diz respeito às cenas fora de estúdio. Quase todos os dias o telespectador que sintoniza na Record nesse horário pode ver Armando, personagem de Raul Gazolla, nas ruas ou nos quiosques de Copacabana. Não raramente, Jonas Bloch e Henrique Pagnocelli, que dão vida aos empresários Ricardo e Ariosto respectivamente, aparecem jogando golf com uma bela paisagem de fundo. Vale citar também as cenas em que Cíntia, papel de Carla Regina, aparece com seu personal trainer no calçadão das exuberantes praias cariocas. Mesmo que o telespectador não goste da história, pelo menos para pra acompanhar algumas das excelentes tomadas cariocas.



Divulgação/Record


Até aqui falei da produção de "Bela, a Feia" e do ótimo trabalho que Edson Spinello e seus subordinados vêm fazendo. Entretanto todo esse grande trabalho e produção não teriam êxito nenhum se o texto fosse fraco. Acredito que todos concordam comigo. Porém esse não é o caso de "Bela, a Feia". Gisele Joras, em sua segunda novela, vem se mostrando mais competente que diversos autores com 10, 15, 20 anos de carreira. Ela vem captando muito bem o que o telespectador de hoje quer. Agilidade, comédia, uma história forte, segredos e reviravoltas são itens que estavam em peso em "Amor e Intrigas" e que novamente se encontram em seu segundo trabalho. Um texto fantástico. O cuidado da autora e de seus colaboradores é imenso até mesmo nas falas, onde os executivos, os vilões, os personagens cômicos, todos têm seus vocabulários próprios e muito bem pensados. Gisele Joras ainda não tem renome, mas com certeza, em questão de tempo - e pouco tempo - terá. E é muito bom saber que as emissoras estão apostando em novos nomes. Cristianne Fridman, autora de "Chamas da Vida", soube desenvolver muito bem sua primeira novela solo. Já Thelma Guedes e Duca Rachid, da Globo, dispensam comentários, "Cama de Gato" é uma novela das seis como há muito não se via, devido à agilidade, belas cenas, um casal de protagonistas bem entrosados e vilões muito bem definidos além de uma ótima direção e produção.


Por fim, paira uma pergunta. Por que, com todos esses atributos, "Bela, a Feia" não dá audiência? Eu acredito que a resposta dessa pergunta seja simples. A história é repetida. Embora "Bela, a Feia" tenha de mexicana e de colombiana apenas o eixo principal, que é o amor platônico que a secretária sente pelo patrão, o resto tudo é brasileiro. Entretanto o que está na embalagem é a Bela. E o telespectador, que já viu "Betty, a Feia" duas ou três vezes na RedeTV!, que viu "A Feia Mais Bela" e "Ugly Bety" no SBT, talvez não esteja mais interessado em acompanhar mais uma vez a mesma história. Eu acredito que "Bela, a Feia" com a Feia cedendo lugar para um outro tipo de protagonista - o que logicamente mudaria o título da trama - teria tudo para deslanchar.

Outro motivo que vejo pela novela protagonizada por Giselle Itié não decolar é o horário. A Record não teve piedade com a novela e a colocou às 21h, em briga direta com "Caminho das Índias" e "Viver a Vida". Embora nenhuma das duas tenha sido - ou vem sendo - um fenômeno de audiência, elas reúnem praticamente todo o público que quer ver novelas na faixa. Sem contar que ambas são novelas das oito, muito mais complexas. "Bela, a Feia" é novela das sete. O mesmo erro cometido com "Luz do Sol" voltou a ser cometido com "Bela, a Feia". Ambas coincidem no erro e em outro ponto: as duas tem as menores médias de audiência da nova safra de novelas da Record, ou seja, desde 2004. Será coincidência mesmo? Ou que 2+2 ainda são 4?
O horário correto para "Bela, a Feia" sempre foi entre 18h45 e 19h15. Agora não mais, afinal "Caras & Bocas" está consolidada e antes de janeiro não há mais o que fazer. Entretanto não seria de todo mal elaborar uma campanha de reestreia para a novela e colocá-la mais cedo no ar. Outra alternativa seria reforçar o texto, assim como Gisele já havia feito quando "Amor e Intrigas" foi "promovida" para a faixa das 22h, o que certamente é mais viável para a Record.
É uma pena que praticamente metade da novela se foi e ela ainda não foi totalmente descoberta pelo telespectador. Ao menos, a partir dos índices da última terça (24), dia em que "Bela, a Feia" deu 13 pontos de média - uma de suas maiores marcas - prova que nem tudo está perdido. Ainda.

  
Por João Gabriel Batista
joaogabriel@natelinha.com.br


FONTE:http://natelinha.uol.com.br/2009/11/25/not_27075.php

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