Justamente na semana em que foram divulgados dados mostrando que, após dez anos, a taxa de homicídios no Estado de São Paulo voltou a subir, estreou na Rede TV! um pseudo-reality show chamadoOperação de Risco.
O primeiro episódio, na última segunda-feira, prometeu mostrar que a polícia paulista tem “estratégia”, está em constante “guerra contra as drogas” e sempre pronta para “dar fim à quadrilhas”, “desmontar facções criminosas” e “combater a pirataria”. Uau! Deu até vontade de sair às ruas com um Rolex no pulso e um laptop na mão.
O programa não faz a mínima questão de mostrar algum censo crítico ou de esconder que não passa de um grande comercial das Polícia Civil e Militar de São Paulo – um comercial com 25 minutos de duração. Tanto que é apresentado por um delegado.
Os propósitos da exibição deOperação de Riscoficaram ainda mais claros na edição do Superpop que o sucedeu. Sob o pretexto de discutir os bastidores das operações policiais, Luciana Gimenez recebeu o número um da Polícia Civil (o delegado-geral), o comandante da Polícia Militar, o secretário de Segurança Pública e, por fim, o “nosso querido governador José Serra”, nas palavras da apresentadora. Na plateia, só havia policiais – ou “só homem fardado”, de acordo com Luciana. O que se viu foi mais promoção à fantástica Segurança Pública paulista. Constrangimento? Nem quando a apresentadora perguntava se as autoridades tinham gostado do novo cenário do Superpop.
Operação de Risco, na verdade, é um programa produzido originalmente para a Globo. Em 2008, a emissora encomendou e pagou a uma produtora independente paulista por 13 episódios. O programa iria se chamar Força-Tarefae seria exibido às quintas, após o seriado que vem logo após A Grande Família. O bom-senso levou a Globo a devolver o material e dar destino mais nobre ao título Força-Tarefa – um seriado policial.
Não foi à toa que a Globo se negou a exibi-lo. O programa é muito ruim. Em 2008, executivos da Globo expuseram dois argumentos para reprovar o programa: o material era muito chapa-branca e, por mais que seus profissionais tenham tentado (até um rapper fez piloto como apresentador, em um esforço de contrapor o conteúdo pró-polícia), não conseguiram dar a ele um formato que escapasse do infomercial com linguagem de Aqui Agora (a câmera “nervosa”, do cinegrafista que pega carona em carro de polícia e que corre atrás do policial, que por sua vez, corre atrás do suposto bandido).
Pode-se argumentar que Operação de Risco tem alguma utilidade ao mostrar bastidores de operações policiais. OK, mas o problema é que as operações mostradas na estreia foram de relevância zero. A principal era uma ação de um grupo de elite da Polícia Civil contra traficantes em favelas da zona sul de São Paulo, narrada pelo delegado que a comandava. O programa vendeu a operação como uma “guerra contra as drogas”. Bobabem. Os policiais não prenderam um único traficante importante. Só pegaram “aviões” (adolescentes que servem de elo entre o usuário e o fornecedor de drogas) e supostos “noias” (dependentes que ficam rondando a “boca”). Enfim, Operação de Risco só tem uma utilidade. A de promover a polícia de José Serra neste ano de eleições, mostrando a instituição como eficiente e enérgica, mas sem a truculência que muitos conhecem.
Com Informações do Daniel Castro do R7
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