"O fim da televisão brasileira como conhecemos é uma questão de tempo, ou de muito pouco tempo".
A sentença é de Cacilda M. Rêgo, professora associada da Utah State University. Foi proferida há uma semana, durante o Celacom 2010 - XIV Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação, evento que reuniu no Memorial da América Latina, em São Paulo, estudiosos de comunicação, principalmente da televisiva. O tema central do encontro foi "Televisão na América Latina: 60 Anos de Aculturação, Mestiçagem, Mundialização".
A sobrevivência da televisão tal como conhecemos hoje é uma das grandes questões que afligem os acadêmicos da área.
Autora de estudos sobre a telenovela e o cinema brasileiros, Cacilda M. Rêgo acredita que a TV digital e a convergência do televisor com outras mídias, principalmente o computador, vai mudar a TV. Segundo ela, a televisão do futuro será um "portal de televisão com convergência de mídias". E vai surgir um novo telespectador, emergente e convergente. Ou seja, um telespectador que navega por várias mídias, que assiste a TV de diversas formas.
Em sua apresentação, Cacilda fez um resumo dos quase 60 anos da TV brasileira. Destacou o início da Globo, nos anos 1960, com uma programação popularesca (Silvio Santos, Chacrinha, Dercy Gonçalves), a instituição de um padrão de qualidade imposto pela ditadura militar, nos anos 1970, e entrada de novos concorrentes (Manchete, SBT e Record), a partir dos anos 1980.
Cacilda lembrou que o Plano Real, em 1994, permitiu o "acesso das classes menos favorecidas à TV", que relançou nova linha de programas popularescos, ameaçando a hegemonia da Globo. "Meu argumento é que mesmo sendo a maior e mais assistida, já não se pode dizer que todo mundo está ligado na Globo", afirmou.
Paradoxo
O passado da televisão brasileira e seu futuro também dominaram a fala de Ana Carolina Rocha Temer, pesquisadora da Universidade Federal de Goiás e da Universidade Metodista de São Paulo.
"O Brasil nunca esteve com tanto aparelho de televisão ligado. Tem TV ligada no supermercado, nas casas. O aparelho de TV é onipresente. Então é um paradoxo dizer que a televisão está em crise", afirmou Ana Carolina.
A professora resumiu a história da TV brasileira, da fase do "fetiche" (como objeto de consumo) dos anos 1950, passando pela consolidação como principal fonte de informação, nos anos 1970, e pela ameaça ao "monopólio, nos anos 1980, com a chegada do videocassete, do controle remoto e da TV a cabo, até chegar aos anos 1990, com os novos consumidores e as mudanças.
"O que acontece de importante no Brasil está na televisão. O brasileiro se vê na televisão como uma espécie de continuidade da vida. Está na televisão, é importante", afirmou Ana Carolina.
A pesquisadora destacou que os reality shows são hoje os produtos-vedete, que o jornalismo mudou e que há mais programas híbridos (que misturam gêneros e formatos). Programas femininos que têm entradas ao vivo de repórteres são um exemplo atual de hibridização. "A TV precisa mostrar que está ligada na população", justificou Ana Carolina.
Ao contrário de Cacilda M. Rego, Ana Carolina Rocha Temer não enxerga o fim da televisão como ela é hoje. Para a pesquisadora, o entretenimento oferecido pela TV tende a mudar, abrindo espaço para a interatividade, e a se tornar mais "transmídia", virando vitrine para filmes, revistas e subprodutos telefônicos.
Mas a TV vai continuar visando ao lucro. "Você senta em frente ao televisor para relaxar. Portanto, a TV vai continuar sendo predominantemente entretenimento. O que vai mudar é o entretenimento, não a TV. O entretenimento terá mais reality shows, mais pessoas comuns", afirma.
Fonte:R7
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